Percepções de terapeutas ocupacionais sobre os saberes relevantes para as práticas na assistência social
Descrição da imagem: ao centro, um quadrado em tom de verde com os dizeres "Percepções de terapeutas ocupacionais sobre os saberes relevantes para as práticas na assistência social". No canto inferior esquerdo um megafone nas cores azul e branco e o fundo em tom de laranja. #PraTodosVerem
Percepções de terapeutas ocupacionais sobre os saberes relevantes para as práticas na assistência social
Segundo dados oficiais de 2017, temos
no Brasil aproximadamente 9% das terapeutas ocupacionais vinculadas ao
Sistema Único de Assistência Social (SUAS) (OLIVEIRA, 2020), caracterizando,
portanto, um importante campo de atuação. Considerando o trabalho destas
profissionais na assistência social, levantamos o questionamento sobre quais
conteúdos (saberes e caminhos metodológicos) têm sido relevantes para atuarem
no setor.
Visando contribuir
com essa questão, retomamos as informações provenientes da pesquisa “Qual é a
SUAS? A terapia ocupacional e o Sistema Único de Assistência Social” (OLIVEIRA,
2020), que buscou conhecer as percepções de terapeutas ocupacionais sobre os
conteúdos que consideram relevantes para a sua prática. Em uma das etapas, participaram,
por meio de entrevista, dez colaboradoras vinculadas a diferentes unidades
socioassistenciais, sendo estas: Centro de Referência de Assistência Social -
CRAS (duas profissionais), Centro de Convivência (uma profissional), Centro de
Referência Especializado em Terapia Ocupacional - CREAS (um profissional), Centro
de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua – Centro Pop (duas
profissionais), Centro de Referência ao Idoso (uma profissional), Centro Dia
(uma profissional) e Unidade de Acolhimento (duas profissionais).
Como ponto de
partida, as terapeutas ocupacionais ressaltaram a importância de compreendermos
a conjuntura social e econômica da sociedade brasileira, que tem em seu bojo
uma realidade estruturalmente desigual e excludente. A partir de uma leitura
crítica da realidade social, é imprescindível que terapeutas ocupacionais
compreendam as desigualdades sociais que atingem profundamente as populações
acompanhadas na assistência social, como expressões da questão social,
identificando os problemas sociais como problemáticas coletivas que impactam a
cada um de nós de formas distintas.
Considerando ainda a
contextualização do universo profissional, as terapeutas ocupacionais
mencionaram a relevância de ter conhecimento sobre a política pública de
assistência social, compreendendo desde sua trajetória e marcas históricas até
a organização do SUAS, os níveis de Proteção Social e os serviços, programas,
projetos e benefícios socioassistenciais. Além disso, apontaram como
fundamental atuar em consonância com os objetivos e atribuições do serviço onde
trabalham, a fim de esclarecer as atribuições e os limites da ação técnica. Uma
das terapeutas ocupacionais pontuou especificamente a importância de distinguir
as ações desenvolvidas no campo da saúde das ações desenvolvidas no campo da
assistência social, assinalando que neste o trabalho não tem caráter de “reabilitação”.
As dimensões da
vulnerabilidade social e das violações de direitos, bem como seus impactos na
vida cotidiana, também foram elencadas como aspectos importantes a se conhecer
para a atuação na assistência social. As terapeutas
ocupacionais salientaram que as populações atendidas residem majoritariamente em
regiões de pobreza, em territórios caracterizados pela violência e baixa
escolaridade. Essa realidade impacta diretamente na história de vida das
pessoas e reflete em uma cultura muitas vezes baseada na violência e na
privação de direitos. Neste sentido, a aproximação e apreensão dos repertórios
e dos contextos de vida das pessoas e populações acompanhadas foram dimensões
consideradas indispensáveis para a prática.
O trabalho em rede e
a articulação intersetorial foram destacados como ferramentas relevantes para a
ação de terapeutas ocupacionais no SUAS. A compreensão de como a rede se
estrutura, seus fluxos e articulações, foi pontuada como aspecto essencial para
realizar uma atuação mais efetiva e integral. O trabalho em rede também foi
destacado ao se considerar a incompletude da política de assistência social,
que frente à complexidade das necessidades apresentadas pelas pessoas, grupos e
populações, demanda ações articuladas entre os diferentes setores como:
educação, saúde, cultura, habitação, dentre outros.
Complementando a
ênfase para um trabalho integral, a atuação em equipe emergiu como um ponto
importante e bastante realizado neste contexto. As terapeutas ocupacionais
salientaram a importância do trabalho multidisciplinar, já que o serviço
prestado às populações é construído coletivamente com outros
profissionais.
Em relação às habilidades compreendidas como essenciais às terapeutas ocupacionais que atuam na assistência social, o manejo na condução de grupos obteve grande destaque, parecendo uma potente estratégia de abordagem. Também foram mencionadas características que podem ser consideradas importantes para a ação técnica com a população, tais como: a escuta, o diálogo, a empatia, o olhar crítico e a criatividade. Foram mencionadas ainda a importância da postura ética e da disponibilidade, sendo uma profissional disposta, paciente e maleável, além de ter disposição para criar vínculos e trabalhar com a rede. Duas das respostas especificaram a importância de se ter um bom repertório de atividades, incluindo algumas específicas para esse campo de atuação, para que seja possível contemplar as necessidades apresentadas pelas populações.
Por fim, as
terapeutas ocupacionais ressaltaram que a formação profissional não deve se
limitar aos conhecimentos adquiridos na graduação. O trabalho na assistência
social envolve a busca por aprender de diferentes fontes, perspectivas e
teorias, pois, assim como o processo de formação, os serviços e a rede estão em
constante construção e precisam ser fortalecidos. Uma das profissionais, ao
enfatizar a importância da educação permanente, citou a complexidade do ser
humano e das situações de vulnerabilidade, as quais são desafiadoras mesmo
dispondo de experiência profissional na área.
A partir da experiência em diferentes
serviços da assistência social, as terapeutas ocupacionais elencaram saberes e
habilidades importantes aos profissionais que atuam no SUAS. Fica clara a
importância de um olhar crítico para a realidade social e para a leitura
contextualizada das histórias de vida e das demandas apresentadas na
assistência social. Além disso, o trabalho no SUAS se coloca como uma
construção cotidiana e coletiva, implicando desde a participação do usuário e o
trabalho em equipe até a articulação com a rede socioassistencial e
intersetorial. Para isso, é fundamental que as terapeutas ocupacionais tenham
disponibilidade para escutar, dialogar e desenvolver uma ação técnica, ética e
comprometida com o exercício e a garantia de direitos sociais para todos.
Sabemos
que esse texto é só o início de uma reflexão longe de se esgotar, então deixe
seu comentário e conte pra gente o que você acha fundamental para sua atuação
como terapeuta ocupacional no SUAS.
Referência
OLIVEIRA, Marina Leandrini de. Qual é a
SUAS? A terapia ocupacional e o Sistema Único de Assistência Social. 2020.
348f. Tese (Doutorado em Terapia Ocupacional) – Universidade Federal de São
Carlos, São Carlos, 2020.
Texto escrito por: Helena Marinho Rocha e Tayane Pereira
Gouveia (discentes do VI período do Curso de Graduação em Terapia Ocupacional
na Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM), Marina Leandrini de
Oliveira, Carla Regina Silva Soares e Ana Paula Serrata Malfitano.
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