Sintonizando na TransformAção: uma experiência de trabalho nas medidas socioeducativas em meio aberto a partir da segurança de acolhida segundo o SUAS.
Descrição da imagem: Fundo verde claro com estampa em zig zag. Ao centro o título "Sintonizando na TransformAção: uma experiência de trabalho nas medidas socioeducativas em meio aberto a partir da segurança de acolhida segundo o SUAS." No canto esquerdo uma nota musical, no canto direito a imagem de um rapaz de boné, segurando um rádio e atrás uma cidade com uma antena. Embaixo um equalizador com cores laranja, verde e bege.
Sintonizando na TransformAção: uma experiência de trabalho nas medidas socioeducativas em
meio aberto a partir da segurança de acolhida segundo o SUAS.
Imagem do acervo de fotos do COMEC, corresponde a atividade de gravação de música realizada pelo jovem mobilizador social do projeto Sintonizando na TransformAção.
O projeto Sintonizando na TransformAção vem sendo desenvolvido desde o ano de
2020 no Centro de Orientação ao Adolescente de Campinas (COMEC) com apoio da
Federação das Entidades Assistenciais de Campinas (FEAC). Tem como proposta
atender adolescentes e jovens que já cumpriram medidas socioeducativas em meio
aberto, com a finalidade de favorecer o afastamento do universo infracional por
meio da capacitação técnica na área da comunicação e mídias sociais, na
perspectiva de se tornarem mobilizadores sociais e produzirem conteúdos que
dialoguem com seus pares, com os adolescentes em cumprimento das medidas
socioeducativas e com outros atores de suas comunidades. Este projeto foi
elaborado pela equipe multiprofissional das medidas socioeducativas sob a
coordenação de duas terapeutas ocupacionais, que tem em seus norteadores
técnicos ações majoritariamente grupais e que dialoguem com o território e com
as experiências vividas por esses adolescentes e jovens em conflito com a lei.
No acompanhamento da medida
socioeducativa, observa-se que os adolescentes e jovens têm poucas
oportunidades de acesso aos espaços de convívio social que propiciem vivências
de cidadania, cultura e socioeducação. Socialmente, há um estigma sobre os
adolescentes que praticam atos infracionais, prevalecendo o rótulo de sujeito
violento e incapaz de transformar sua trajetória de vida. Entretanto, a
realidade destes adolescentes e jovens é de vulnerabilidade social, que emerge
na necessidade iminente de renda e que, precocemente, os aproxima de atividades
ilícitas. Neste sentido, o projeto Sintonizando
na TransformAção apresenta uma oportunidade de promoção de novas
perspectivas de vida, com o desenvolvimento de competências relativas à
elaboração e à produção de arquivos multimídia por meio de ferramentas digitais
e de produção musical, proporcionando ampliação de repertório de habilidades
técnicas, novas referências sociais e validação de suas vozes e de suas experiências
de vida.
Através da aquisição destas ferramentas
da comunicação e da oferta de uma bolsa auxílio mensal, este projeto tem
formado mobilizadores sociais na perspectiva de favorecer mudança no seu papel
social e distanciamento do universo infracional. Neste sentido, favorece o
deslocamento do trabalho ilegal e exploratório para uma condição de trabalho decente,
de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Acredita-se que a
comunicação e a arte apresentam potencial de transformação dos contextos de
exclusão, pois, a partir delas é possível alocar o adolescente/jovem a um papel
de protagonista de ações de mudança de si e da comunidade a qual pertence. O
trabalho se desenvolve a partir dos pressupostos da educação popular descrita
por Paulo Freire (2013), a qual se compromete com a construção de conhecimentos
que desenvolvem condições para a superação de situações de exclusão e opressão
social.
Segundo Farias e Lopes (2020), a terapia
ocupacional tem como intuito articular práxis junto a sujeitos e grupos que
vivenciam processos de rupturas de suas redes sociais de suporte e, por
consequência, limitação na participação
social. É por meio de ações que articulam essa dimensão comunitária e
territorial, que se faz possível elaborar e realizar ações comprometidas com as
formulações de Paulo Freire, para libertação de sujeitos e grupos subalternizados,
oferecendo possibilidades para lidarem com as relações de opressão e
transformação desta realidade.
Dayrell (2012) afirma que no campo cultural, por meio do aspecto da criatividade, o jovem pode passar de espectador passivo a criador ativo, o que contribui para o seu reconhecimento, a sua autoestima, e a sua capacidade de fazer escolhas. Para o público deste projeto o direito à escolha é escasso ou inexistente, sendo assim, a metodologia desenvolvida coloca em destaque a participação destes adolescentes e jovens, para que desenvolvam seu potencial e se reconheçam como protagonistas de transformação pessoal e social.
Um dos aportes deste projeto é trabalhar
a comunicação e a música como recursos mediadores para despertar a capacidade
de comunicar-se, de expressar-se e de produzir conhecimento. As produções de
canais de comunicação como podcast, entrevistas, documentários, produção
musical, entre outros, têm sido realizadas pelos mobilizadores sociais têm
favorecido o alcance da visibilidade destes jovens enquanto sujeito de
direitos, com potência no desenvolvimento destas atividades. Deste modo, as
produções realizadas têm possibilitado a ampliação das referências sociais e
reflexões acerca do cotidiano, bem como o debate de temas transversais que
atravessam suas realidades e os conectam com os seus territórios de vida.
Nas ações da assistência social, segundo
premissas da Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (2009), a Segurança de Acolhida é um aspecto
esperado no trabalho técnico, uma vez que os objetivos devem ser pautados no
direito a estes adolescentes e jovens em serem acolhidos em condições de
dignidade, em ambiente favorável de expressão e de diálogo de suas condições
sociais. Devem ser estimulados para
expressão de seus interesses e necessidades, terem suas identidades,
integridades e histórias de vida preservadas e validadas nas relações com os
serviços e, acima de tudo, que as ações técnicas sejam capazes de gerar
oportunidades para reparação e/ou minimização de danos causados pelas vivências
de violações e riscos sociais.
Neste sentido, o projeto é realizado a
partir das ações dos serviços da proteção social especial de média complexidade
- medidas socioeducativas em meio aberto do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS). Dialoga com os preceitos da Segurança de Acolhida, uma vez que os
adolescentes e jovens que se formam mobilizadores sociais, tornam-se
referências positivas para os demais pares que estão no cumprimento das medidas
socioeducativas, para sua comunidade e rede de apoio. A partir do
reconhecimento de sua própria história de vida, da transformação de uma
realidade social e do acesso aos direitos sociais, busca-se uma nova construção
de cidadania e participação social na vida destes adolescentes e jovens que
passaram pelo sistema socioeducativo. Valoriza-se uma cultura juvenil a partir
das imagens e das identidades do projeto, dos grafites realizados no estúdio
pelos jovens, dos conteúdos escolhidos para os podcasts e das letras das
músicas de própria autoria.
Para maiores
informações, acesse:
@comeccampinas
@sintonizando.na.transformacao
https://open.spotify.com/search/sintonizando%20na%20transforma%C3%A7%C3%A3o
Spotify
“Sintonizando na Transformação” e os programas “Periferia contra o sistema e “A
Voz da Visão”
Texto escrito
por:
Adilaine Juliana
Scarano Vedovello, terapeuta ocupacional, coordenadora técnica no COMEC e do
projeto Sintonizando na Transformação
Larissa Mazzotti
Santamaria, terapeuta ocupacional, coordenadora geral do COMEC
Referência
Bibliográficas
BRASIL.
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de
Assistência Social. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais.
Brasília: MDS, 2009.
COMEC. Site institucional. Disponível em:
http://www.comec.org.br/ Acesso em: 02/07/2022.
DAYRELL, Juarez. O rap e o funk na socialização da juventude.
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117-136, 2002.
FARIAS, Magno Nunes.; LOPES, Roseli Esquerdo.
Terapia ocupacional e Paulo Freire: uma revisão de escopo. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, [S. l.],
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Acesso em: 4 jul. 2022.
FREIRE, Paulo. Pedagogia
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Organização
Internacional do Trabalho (OIT). Site institucional. Disponível em:
https://www.ilo.org/brasilia/conheca-a-oit/lang--pt/index.htm. Acesso em: 03/07/2022.
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