Varal poético: práticas de acolhimento e pertencimento em uma casa de passagem

 


Descrição de imagem: Fundo da imagem é uma folha de papel quadriculado. Acima, na lateral esquerda, imagem com três livros nas cores amarelo, verde e laranja seguido por uma luminária na cor preta. Na parte superior centralizada, a frase nas cores verde, laranja e branco: "Resumo dos trabalhos apresentados no evento TO.no SUAS Diálogos Contemporâneos". Na parte inferior centralizado o título: "Varal poético: práticas de acolhimento e pertencimento em uma casa de passagem#Pratodosverem


Este trabalho tem como objetivo apresentar um relato de experiência de uma das atividades realizadas no estágio supervisionado em Terapia Ocupacional no campo social, no segundo semestre de 2021, a atividade foi proposta no contexto da casa de passagem que abrigava as práticas do estágio, de forma aberta com os/as usuários/as que se sentissem acolhidos e confortáveis à participar. Buscamos pensar a produção de um cuidado que gerasse identificação e possível acolhimento para população heterogênea que circulava pela instituição, que era basicamente composta por uma população em situação de rua e/ou em vulnerabilidade e risco social. Compreendendo isso e após semanas de rodas de conversa abertas que possibilitaram que nós, enquanto estágio, conhecêssemos e nos aproximássemos da realidade da instituição e das realidades singulares de cada usuário/a percebemos uma dificuldade de vinculação com serviço por não se compreender como parte do todo, do cuidado social prestado e/ou necessário. Com isso e buscando apreender e diversificar as formas de expressão colocadas na rotina da casa de passagem, vistas a incluir aqueles/las que não se sentem à vontade na oralidade, propomos a construção de um varal poético, no qual os usuários/as da casa poderiam contribuir com mensagens, com desabafos e expressões das mais diversas sensações e sentimentos, seja através de escrita, desenho, música, poesia, etc. No primeiro momento oferecemos diversos materiais, como letras de músicas e poesias, deixamos em aberto a possibilidade de participação, aos poucos alguns usuários/as se aproximaram, produziram, recortaram as letras de música disponíveis em trechos que fizessem sentido, rabiscaram, desenharam, escreveram poesias autorais e ou desde lugares da memória em um ritmo interessante de quem tinha muito a falar e pouco espaço de escuta. Expomos na parede da instituição com o consentimento dos/as autores/as, porém pouco tempo depois os trabalhos haviam sido retirados de lá sem explicação. Em um processo de retomada e marcação de lugares possíveis também de nossas práticas, realizamos um segundo momento que mesmo com a alta rotatividade característica da instituição teve a mesma ou maior participação dos/das usuários/as com uma ânsia por ser visto/a ou ouvido/a e esse se manteve na casa, desta vez aqueles que ali expuseram suas contribuições fizeram questão de marcar seus nomes e lugares de pertencimento. A construção deste espaço se torna uma estratégia sensível e enriquecedora para a promoção de espaços de escuta, de expressão, de elaborações de si e do meio. Utilizamos de meios de expressão outros para tentar dar conta de uma lacuna importante do serviço: espaços de acolhimento e escuta, mas também produzimos sensibilização e apropriação do espaço como de todos/as que ali circulam, sendo esta então uma estratégia interessante de acolhimento e pertencimento. Por fim, compreendemos as dinâmicas institucionais ligadas à um serviço de alta complexidade na rede assistencial do município, assim como a potencialidade da escuta qualificada e atenta às necessidades daqueles/las que muitas vezes precisam de outros meios para se expressar e dizer de si e suas demandas.

Texto escrito por:

Natália Machado de Medeiros¹; Shauana Figueira Naziazeno²; Luana Ramalho Martins³

 ¹ Acadêmica do curso de Terapia Ocupacional na Universidade Federal de Santa Maria (npachecom0@gmail.com)

² Acadêmica do curso de Terapia Ocupacional na Universidade Federal de Santa Maria (shauanafn02@gmail.com)

³ Docente substituta no curso de Terapia Ocupacional na Universidade Federal de Santa Maria (lramalhomartins@gmail.com


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