A terapia ocupacional e o grupo das minas: encontros intergeracionais entre mulheres da periferia no CRAS

 


Descrição de imagem: Fundo da imagem é uma folha de papel quadriculado. Acima, na lateral esquerda, imagem com três livros nas cores amarelo, verde e laranja seguido por uma luminária na cor preta. Na parte superior centralizada, a frase nas cores verde, laranja e branco: "Resumo dos trabalhos apresentados no evento TO.no SUAS Diálogos Contemporâneos". Na parte inferior centralizado o título: “A terapia ocupacional e o grupo das minas: encontros intergeracionais entre mulheres da periferia no CRAS#Pratodosverem

Introdução: O Terapeuta Ocupacional no SUAS proporciona o fortalecimento de vínculos comunitários de sujeitos que vivenciam no seu cotidiano processos de vulnerabilidade social e restrição de acesso aos direitos sociais básicos. Na perspectiva dos direitos humanos, as ações na assistência social básica envolvem o incremento da participação social de sujeitos e grupos, no combate às iniquidades e violências cotidianas. Na sua abordagem, a terapia ocupacional utiliza as atividades enquanto tecnologia de mediação sócio-ocupacional para a transformação de histórias de vida e fortalecimento de identidades pessoais e coletivas. Apresentação da experiência prática: O relato de experiência se localiza em uma unidade do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) na cidade de Uberaba-MG, no período de 4 meses, a partir das atividades de estágio profissionalizante. A proposta era a formação de um grupo de mulheres em um bairro periférico, intitulado Grupo das Minas para favorecer o fortalecimento coletivo de mulheres periféricas, unindo-as em torno de conversas e atividades para abordar temas como: vida cotidiana, violências de gênero, iniquidades e estratégias de enfrentamento. O grupo formado abrangeu mulheres de diferentes gerações, caracterizando a pluralidade das demandas e diferentes representações do que é ser mulher. Para os encontros foram utilizados recursos audiovisuais, músicas, poesias slam e dinâmicas, abordando as percepções sobre os impactos da iniquidade de gênero no cotidiano. As atividades propostas foram disparadoras de diálogos intergeracionais em que as histórias de vida foram compartilhadas numa atmosfera de acolhimento, respeito, empatia e apoio - histórias de mulheres que durante anos foram silenciadas. Na avaliação das mulheres, no espaço-tempo da T.O foi possível encontrar uma escuta ativa, uma oportunidade para tecer novos laços de amizade na comunidade e um acolhimento humano de narrativas silenciadas pela violência. A partir de letras de música e poesias, o espaço permitiu um confronto respeitoso de diferentes visões sobre “ser mulher” entre as diversas gerações – desde formas de enfrentamento a violência até a abordagem de uma mulher frente ao machismo no seu cotidiano.  Reflexões: O grupo permitiu fomentar redes de solidariedade entre mulheres de diferentes gerações: a cada encontro, elas teciam novas formas de olhar para suas próprias existências e coletivizavam estratégias de enfrentamento individuais e coletivas contra o machismo no cotidiano. Numa perspectiva crítica, observamos uma terapia ocupacional social sensível às particularidades do território e engajada politicamente, que utiliza o agenciamento de encontros e as atividades enquanto dispositivos de produção de vida, autonomia e participação social. E como terapeutas ocupacionais devemos ainda pensar que estes sujeitos, ao mesmo tempo em que são impactados pela cultura – permeada pela densidade histórica, também produzem cultura, e, neste sentido, o profissional deve implementar práticas em que estes saberes e fazeres coletivos são aproveitados para que se subverta a lógica de poder a que estas mulheres estão submetidas em seus cotidianos. Na perspectiva de um co-agenciamento comunitário que vise a igualdade de gênero e a justiça social, o terapeuta ocupacional deve valorizar, nos territórios em que ele atua, os dispositivos culturais e artísticos que resistem aos modos de vida hegemônicos, colonialistas e patriarcais.

Texto escrito por:
Franciellen Souza Ferreira - Terapeuta Ocupacional pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro
Heliana Castro Alves - Docente da Terapia Ocupacional na Universidade Federal do Triângulo Mineiro

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