Experiências de uma terapeuta ocupacional iniciando sua atuação no SUAS

 

Descrição da imagem: Fundo verde escuro, com texturas sobrepostas nas cores branco e laranja. No centro escrito: "Experiências de uma  Terapeuta Ocupacional iniciando sua atuação no SUAS". No canto superior esquerdo há uma seta e no canto inferior direito uma prancheta.


Sou formada há 16 anos e sempre trabalhei na área da saúde, especificamente na saúde mental, e senti um misto de emoções quando fui nomeada para trabalhar na Secretaria da Assistência Social. No que se refere ao trabalho, foi confortante saber que havia colegas de profissão contribuindo para a atuação nessa área.

Logo comecei a trabalhar 20 horas semanais, sendo 8 delas em uma Residência Inclusiva (RI) e as outras 12 horas em um Centro de Referência para Pessoas com Deficiência (CREPD).

De acordo com a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, o CREPD é um dos equipamentos da proteção social especial da média complexidade. Sendo especializado para pessoas com deficiência, idosas e suas famílias com algum grau de dependência, os quais tiveram suas limitações agravadas por violações de direitos, tais como: “exploração da imagem, isolamento, confinamento, atitudes discriminatórias e preconceituosas no seio da família, falta de cuidados adequados por parte do cuidador, alto grau de estresse do cuidador, desvalorização da potencialidade/capacidade da pessoa” (BRASIL, 2009, s/p.).

O CREPD no qual trabalho, tornou-se centro de referência apenas em junho de 2021 com o objetivo de agregar vários outros serviços ao longo do tempo destinados às pessoas com deficiência. Antes disso, era um serviço administrativo que fornecia passagem de ônibus municipal, cartão de estacionamento e van adaptada a quem se adequasse à legislação vigente.  Atualmente, as pessoas podem acessar os serviços para: requisitarem os benefícios administrativos, fazerem denúncias anônimas e realizarem uma busca espontânea para qualquer assunto pertinente às necessidades dessa população específica.

Componho uma equipe técnica juntamente com uma assistente social e coordenadora, 2 auxiliares administrativos, 2 estagiários de serviço social e vários jovens aprendizes. Realizo visitas domiciliares e me torno técnica de referência no acompanhamento da família, ou seja, decido, juntamente com a pessoa, o que ela considera importante e de que forma posso auxiliá-la no acesso aos seus direitos. Por meio da articulação com a rede de saúde, de assistência social, de esporte e lazer, de justiça, e tantas outras que forem necessárias, busco atingir tal finalidade. Além disso, discuto todos os casos com a assistente social para aprender a diferenciar quando encaminhá-los ao CREAS ou mantê-los em acompanhamento no serviço, quando as articulações realizadas forem pertinentes. Há também perspectiva de que seja promovido um grupo de orientação familiar.

Já a Residência Inclusiva é um serviço da proteção especial da alta complexidade. É destinado a jovens e adultos com deficiência que romperam seus vínculos familiares ou estão fragilizados e não têm condições de autossutentabilidade, de retaguarda familiar temporária ou permanente ou estão em processo de desligamento de instituições de longa permanência (BRASIL, 2009).

Esta RI foi criada às pressas em janeiro de 2017, devido ao fechamento de uma ONG local que atendia pessoas com deficiência e recebia repasse financeiro municipal. Os usuários do equipamento foram instalados em um prédio construído inicialmente para abrigar mulheres vítimas de violência e, desde então, permanecem no mesmo espaço físico: afastado do centro, sem adaptações para pessoas com deficiência, sem características de uma casa, com duas portas de acesso à instituição, dentre outras características.

A equipe é composta por uma cozinheira, um motorista, uma enfermeira, uma auxiliar de enfermagem, uma assistente social, uma TO e 8 cuidadores que se revezam em plantões de 12 por 36 horas nos períodos diurno e noturno. Quase todos os usuários têm algum benefício assistencial e alguns têm sua curatela exercida pelos seus parentes. Os trabalhadores não costumam fazer reuniões de equipe e as necessidades dos moradores são discutidas concomitante aos acontecimentos rotineiros da instituição.

Meu trabalho tem sido conhecer os usuários da residência e os caminhos que os levaram até a condição de acolhimento institucional. Busco individualizar as intervenções e adequá-las aos desejos deles, na medida do possível, além de compreender a dinâmica institucional e as formas de trabalhar com ela. Temos algumas particularidades institucionais que dificultam o trabalho, nos desafiando à construção de uma intervenção que não seja pelo reforço às situações de dependência dos moradores.

Dessa forma, tenho tentado descobrir o que faz uma terapeuta ocupacional na assistência social, com a ajuda das publicações de colegas de profissão, as quais considero essenciais na formação de uma base de conhecimento, que me permite desvencilhar o trabalho de vícios institucionais e da influência do modelo biomédico. Assim, desejo aprimorar esta prática, na busca de ações mais efetivas e no âmbito dos princípios da assistência social. 

 

Texto escrito por: 

Andréia – terapeuta ocupacional da Residência Inclusiva e do Centro de Referência para Pessoas com Deficiência (CREPD).

 

Referências

BRASIL, CNAS. Conselho Nacional de Assistência Social. Resolução n. 109 de 11 de novembro de 2009. Aprova a Tipificação de serviços socioassistenciais. Brasília, DF, 2 009. Disponível em: http://www.mds.gov.br/cnas/legislacao/legislacao/resolucoes/arquivo-2009/resolucoes-normativas-de-2009/. Acesso em: 08 jan. 2022


Comentários