Tratar da atuação da T.O no âmbito da Assistência Social implica compreender que o público majoritário atendido por esta política é constituído por pessoas negras. O Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça (IPEA, 2017) revela que a população negra lidera o grupo de beneficiários dos programas socioassistenciais, e que 57% das denúncias de violências geradas a partir do disque 100 também são contra pessoas negras (Meyrieli de Carvalho SILVA, et al. 2019). Assim, quando falamos das pessoas atendidas pela T.O. é importante encarnar essa pessoa em um corpo, que tem uma identidade, cultura, gênero, idade, regionalidade, raça e demais interseccionais que influem em sua forma de estar no mundo (COSTA, 2021).
Neste cenário, o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) engloba e assume a existência do racismo na cartilha “SUAS sem racismo”, lançada recentemente, no ano de 2018, sendo este o primeiro documento no campo da assistência social brasileira que trata da temática racial. Este é um importante documento para a nossa prática profissional, uma vez que situa e apresenta uma série de dados acerca da população negra atendida pelo SUAS e atenta à importância de darmos cor aos corpos das/os usuárias/os dos serviços.
O trabalho da Terapia Ocupacional, ao se afirmar e forjar a partir dos cotidianos, territórios, vidas e fazeres, precisa partir da compreensão de que estes são atravessados por diversas questões sócio-históricas que atualizam, de várias maneiras, a diferença racial que expõe a população negra às mais variadas formas de violência, vulnerabilidades e subalternidades.
Quando falamos de Terapia Ocupacional no SUAS também falamos de acesso à direitos, produção de cidadania e participação social e, neste sentido, reconhecer o racismo como estruturante nas relações interpessoais, territoriais e institucionais é fundamental para que estes direitos sejam garantidos, uma vez que o racismo opera de maneira que interfere diretamente no acesso aos bens sociais.
Em uma sociedade racialmente desigual, estruturada a partir das diferenças sociais, incluindo o racismo, não há outra saída senão a de compreender que raça é um marcador fundamental nas construções de vidas e significados, de que as pessoas negras vivenciam cotidianos atravessados pelas manifestações do racismo que é histórico, estrutural e institucional, e que isso influi na manutenção de situações de violências e vulnerabilidades sociais que se forjam de maneira perversa fazendo a manutenção destas relações profundamente desiguais (Sulamita Gonzaga AMORIM et al., 2020).
Compreender e afirmar a raça é um passo
importante para um fazer profissional comprometido ética e politicamente com as
questões raciais e, consequentemente, com a população negra. Sendo assim, as
problematizações que cercam essa população revelam-se importantes para a
terapia ocupacional, que tem como foco a participação das pessoas na vida
cotidiana (AMORIM et al., 2020).
Texto escrito
por:
Isabelly
Brasil B. da Costa – Terapeuta Ocupacional – CAPS Adulto Paraisópolis –
Integrante do Grupo Dona Ivone Lara.
Rovana
Patrocinio Ribeiro – Terapeuta Ocupacional – Pesquisadora no Instituto Jones
dos Santos Neves – Integrante do Grupo Dona Ivone Lara.
Instagram
do Grupo Dona Ivone Lara: @grdonaivonelara
Referências:
AMORIM, Sulamita Gonzaga;
MARTINS, Sofia; LEITE JUNIOR, Jaime Daniel; FARIAS Magno Nunes. “Asfixias
sociais” da população negra e questões para a Terapia Ocupacional. Rev.
Interinst. Bras. Ter. Ocup. Rio de Janeiro, 2020. v.4(5):719-733. Disponível
em: https://revistas.ufrj.br/index.php/ribto/article/view/36144/0
BRASIL. Ministério de
Desenvolvimento Social. SUAS sem racismo: promoção da igualdade racial no
Sistema Único de Assistência Social. Brasília, 2018. Disponível em: http://blog.mds.gov.br/redesuas/wp-content/uploads/2019/06/Informativo-Promo%C3%A7%C3%A3o-da-IR-no-SUAS.pdf
.
COSTA, I. R. B. B. A
potência dos encontros: Contribuições de Yvonne Lara e Elelwani Ramugondo para
o campo da Terapia Ocupacional. Dissertação (Mestrado em Cultura e
Territorialidades) – Instituto de Arte e Comunicação Social, Universidade
Federal Fluminense, Niterói, 2021.
IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada. Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça - 1995 a 2015. IPEA,
Brasília/DF, 2017. Disponível em <
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/170306_retrato_das_desigualdades_de_genero_raca.pdf>
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